segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Escolhas
As lágrimas sinceras da saudade e da dor,
as escolhas acomodadas no sofá e na casa vazia,
a companhia da solidão nos dias de incerteza,
os resultados das escolhas que fizemos um dia.

Que somos nós senão um amontoado de incertezas?
Se assim somos que sentido há no medo do porvir,
o que o acaso pode nos trazer senão ensinamentos?
Ensinamentos que nos recusamos a ouvir.

O que há no encontro com o passado
é a lição do que poderia ter sido,
quando nos vemos, porém infelizes,
fugimos do que pode ainda ser vivido.

Quem dera a vida tivesse permitido outro caminho.
Quem dera pudesse refazer os passos em outra direção.
Quem dera pudesse compreender que agora.
nada mais resta senão  nossa opção.

Por Monica Gomes Teixeira Campello de Souza
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Stella Mundi

 

            Uma pequena estrela entediada com as maravilhas do firmamento decidiu descer a Terra. Ela veio como uma bela criança do sexo feminino e denominaram-na Stella. Nos seus primeiros dias de vida já sabia exatamente que viera para observar, aprender, e retornar ao firmamento, mas não conseguia, obviamente em virtude da idade, comunicar-se. Balbuciava sons ininteligíveis e, desse modo, repetia para si mesma os seus objetivos.
            Stella aprendeu a andar e falar. Seus pais empenharam-se ao máximo para ensinar-lhe e proteger-lhe, contudo, eram muito pobres e, no processo de aprendizagem e sobrevivência, ela se esqueceu de repetir para si mesma o motivo pelo qual viera e para onde voltaria. Cada vez mais os objetivos se perdiam e ela os apagou da mente
            É preciso dizer que, aos doze anos de idade, ela passou a prostituir-se. Sua mãe já não podia trabalhar e seus irmãos há muito haviam se perdido pela vida irremediavelmente.
            Aos quatorze anos, ela adoeceu. Os médicos após os exames  finalmente, declararam tratar-se de AIDS. Stella passou a sentir-se tão triste que as forças lhe faltaram até para alimentar-se. Sua mãe faleceu dias depois de saber sobre a doença da filha, deixando-lhe uma casinha de Taipa na favela da Roda de Fogo e muitas recordações.
            Numa de suas idas ao médico, ela ouviu um doente comentar que o que o estava ajudando a superar os obstáculos e as agruras da doença era a leitura. Stella, nesse momento, deu-se conta de que não sabia ler. Essa descoberta serviu para aumentar-lhe o pesar e, em meio a tão turbulenta existência, decidiu que aprenderia a ler nem que fosse essa a última coisa que faria na vida.
            E assim foi. Meses se passaram e Stella dedicara-se de corpo e alma ao aprendizado, contudo, a pobreza, mais que a própria doença, minara-lhe as forças. Já acamada, pálida, dolorida e só, começou a definhar.
            Uma vizinha que, por piedade, passava na casa todas as noites para vê-la foi quem, a seu pedido, saiu de casa em casa a procura de qualquer livro ou revista para realizar o estranho desejo de uma moribunda. Um garoto entregou-lhe uma folha de papel com um conto que trouxera da escola. A mulher correu e entregou-o a Stella.
            Conta-se nas redondezas da favela que uma jovem prostituta de 15 anos de idade falecera. Seu último desejo fora o de ler qualquer frase, palavra ou texto que lhe pudessem conseguir. Deram-lhe um conto cuja personagem central era uma estrela que, entediada, com as maravilhas do firmamento, decidiu vir à Terra, sendo denominada Stella. Curioso foi que a jovem moribunda, após a leitura, sorrira com uma alegria indescritível, e de seu cadáver um perfume de flores e um brilho imenso desprenderam-se indo em direção ao infinito, e do seu corpo até hoje não existem vestígios.
Monica Gomes Teixeira Campello de Souza
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